quinta-feira, 1 de março de 2012


A EDUCAÇÃO PÚBLICA E SUA INFLUÊNCIA NA DESIGUALDADE SOCIAL

O Brasil ainda é um dos países mais desiguais do mundo, apesar do orgulho por se encontrar entre as 08 maiores economias mundiais, caminhando para ser a 5ª.
Apesar da gritante desigualdade que impera, reconhecemos que esta tem reduzido, de forma muito lenta, mas tem ocorrido, em função dos aumentos dos ganhos reais do salário mínimo, da geração de empregos formais e das transferências governamentais para programas sociais.
Mas, mesmo tendo ocorrido esta redução nos últimos anos, porém, devem todos não só entender, mas reconhecer que no Brasil a desigualdade é ainda muito elevada, se comparamos as demais economias.
Um dos fatores responsáveis pela elevada desigualdade social em nosso país é o acesso à educação de qualidade.
Para que entendamos o quanto a situação da educação neste País é responsável pelo quadro que hoje impera de forma hedionda, vejamos dados de algumas pesquisas publicadas.
Segundo publicações, cujos dados foram pesquisados por organismos preocupados com a situação da população brasileira, a chance de um filho cujos pais tenham menos de um ano de estudo, ter a mesma escolaridade deles é de 34%. Muito alto não acha? A pesquisa nos mostra ainda que, a probabilidade desta criança fazer o ensino superior é de apenas 1%. Já na outra ponta da pesquisa, a criança cujos pais tenham o ensino superior, tem 60% de probabilidade de também fazer um curso superior.
Analisando as duas pontas da pesquisa, conclui-se que aqueles que têm melhores condições financeiras, passam a ter muito mais vantagens em relação à classe pobre, em função do acesso a melhor educação e da maior escolaridade, com isto passa a ter mais oportunidades no mercado de trabalho, perpetuando assim, a desigualdade social.
E esta desigualdade é especialmente grave em um país que insiste em pagar um custo elevado em razão da baixa escolaridade. Sabe-se que um ano a mais de escolaridade representa um acréscimo salarial, em média, de 15%.
A desigualdade existente oriunda principalmente da falta de acesso a escola de qualidade, se observa não apenas em relação aos ganhos salariais, mas também em relação à empregabilidade. Segundo o DIEESE, nas Regiões Metropolitanas onde o órgão realiza a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), a taxa média de desemprego do trabalhador com apenas o ensino fundamental completo gira em torno de 19,4%, enquanto que para o trabalhador com ensino superior completo esta taxa está em 5,8%. Este dado demonstra que há uma forte correlação entre o nível educacional de uma população e a geração de emprego, com o crescimento do país.
Ora, nos dias atuais, onde todo e qualquer tipo de trabalho está a exigir algum conhecimento intelectual, seja em virtude da tecnologia empregada ou pela necessidade de melhor se comunicar, assim, quanto mais escolarizado o trabalhador se encontrar, maior facilidade ele terá para absorver e assimilar as novas tecnologias, fator indutor e base do crescimento econômico em todos os segmentos.
Não devemos ver as vantagens de uma maior e melhor educação, apenas circunscrita ao campo econômico, mas ter uma visão mais abrangente e ampliada dos benefícios que uma população melhor escolarizada pode obter.
Logicamente que, quanto mais o ser humano estiver preparado educacionalmente, maior estará capacitado para o exercício pleno dos seus direitos políticos e da sua cidadania. Somado a este preparo em relação aos seus direitos, estudos tem comprovado, que nações onde a escolarização é elevada os indicadores de violência são significativamente reduzidos e a probabilidade do jovem cometer crime contra as pessoas e o patrimônio são reduzidas, porque sabem das conseqüências que poderão advir.
Outro dado alarmante, é que a maioria dos desempregados em nosso País é constituido de jovens que estão entre 16 e 24 anos, e que este fenômeno ocorre por motivos diversos, sendo os principais a falta de experiência profissional e baixa a escolaridade.
Ora, diante dos fatos, não é necessário ser técnico no assunto para concluir que, o maior acesso à educação ao jovem situado na classe pobre ou menos favorecido, irá capacitá-lo, tornando menos injusta à disputa por um espaço no mercado de trabalho, já que os dados comprovam a existência de uma relação direta entre escolaridade e capacidade de obter e ou se manter empregado.
Portanto, na medida em que seja dada oportunidade para que o jovem de origem pobre ou menos favorecido financeiramente possa obter uma escolaridade mais qualificada, através de uma educação pública de qualidade, estaremos sinalizando para esses jovens que, ao melhorar a sua capacidade intelectual estaremos lhes abrindo as portas e oferecendo oportunidades para que possa obter um emprego mais qualificado e de poder desenvolver um trabalho mais sofisticado, dando todas as condições de absorver as inovações tecnológicas modernas, que é o segredo da produção com qualidade nos dias atuais.
Todos estão cansados de saber, ler e ouvir que a desigualdade e a pobreza andam de braços dados e que são os nossos maiores problemas sociais na atualidade.
Ora, ninguém desconhece que a pobreza é um mal que se alastra por todos os países, porém, nos níveis do Brasil, a quinta economia mundial, é um fenômeno que não se justifica, exceto por uma política econômica concentradora, onde as benesses das riquezas produzidas correm unicamente para as mãos de uma minoria que predomina desde o seu descobrimento.
Só assim, se pode justificar tanta miséria e tanta desigualdade.
E a miséria que hoje se assiste é o resultado final das desigualdades sociais, transmitido ao brasileiro menos favorecido através da falta de oportunidades, da baixa escolaridade, da renda, de gênero, etc.
No entanto, a desigualdade mais visível para a sociedade é a econômica, que tem como uma das suas origens a baixa escolaridade de nosso povo, principalmente para aqueles que não nasceram sobre o manto ou o guarda chuva das classes dominantes.
Este tem sido o nosso cartão de visitas para o mundo, o de um dos países mais desiguais entre os demais.
Enquanto nos encontramos no patamar das 5 maiores economias do mundo, estamos classificados entre os 8 países mais desiguais, o que significa dizer, que as benesses geradas pela economia, não estão sendo distribuídas igualitariamente.
E não venham culpar os nossos antepassados por este quadro que aí está e que hoje colhemos. O que se pode observar é que esta situação de miséria é decorrência do processo de modernização que tomou o País a partir do início do sec. XIX, sem que o sistema educacional nacional tivesse acompanhado no mesmo grau, e diante da falta de oportunidades que o pobre se viu submetido, vimos crescer o analfabetismo, o desemprego, a miséria e a violência. Essa é a expressão resumida do grau a que chegou às desigualdades sociais no Brasil.
É triste a gente ser obrigado a concluir que os jovens oriundos de famílias modestas ou pobres, têm menos probabilidade de obter um bom nível de instrução, porque os governos sucessivos abandonaram a educação pública ao seu próprio destino.
Enfim, sucateou a educação voltada para os menos favorecidos.
É triste a gente ter que reconhecer que os jovens pobres, por falta de investimentos públicos na sua educação, estão impedidos de obter uma boa escolaridade, com isto, tem menos probabilidade de melhorar ou de chegar a um status social elevado, de exercer profissão de prestígio e ser bem remunerado.
Enquanto o combate à desigualdade não passar a ser uma prioridade e responsabilidade nacional e sair dos discursos oficiais e passar para ações práticas, continuaremos a conviver com a pobreza miséria que hoje assistimos em todas as regiões deste País.
E este combate passa pelo ENSINO PÚBLICO DE QUALIDADE.
Não podemos continuar aceitando afirmativas como as de Hélio Jaguaribe, em seu artigo NO LIMIAR DO SEC. 21, que diz textualmente: “Num país com 190 milhões de habitantes, um terço da população dispõe de condições de educação e vida comparáveis às de um país europeu. Outro terço, entretanto, se situa num nível extremamente modesto, comparáveis aos mais pobres padrões afro-asiáticos. O terço intermediário se aproxima mais do inferior que do superior”. Bem como é triste termos que aceitar afirmativas como a de Barros e Henriques, 2001, que: “o Brasil é o terceiro país com maior desigualdade de renda no mundo, estando atrás apenas de Malavi e África do Sul”.
Diante destas afirmativas podemos afirmar que há dois Brasis, no mesmo território nacional.
De um lado, a elite e aqueles que secularmente sempre se mantiveram sob o manto de proteção do Poder, obtendo dele todas as benesses e do outro termos um contingente significativo da população à margem e excluída da sociedade brasileira, onde milhões de pessoas não possuem sequer uma certidão de nascimento, sem endereço residencial e carteira de trabalho, não pagam impostos, muito menos conta em banco, não sabem ler ou não entendem o que leem e que dificilmente conseguirão entrar no mercado de trabalho, cada vez mais exigente e cobrando daqueles que nele querem entrar mais.
Este é um outro Brasil, conhecido, mas sem ser devidamente olhado, cuja realidade fica escondida pelas estatísticas oficiais.
Ninguém procura saber a quantidade de pobres, onde estão e quais as suas causas e conseqüências.
Só os procuram na época de eleições.

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