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sexta-feira, 22 de março de 2013
CAMPINENSE CAMPEÃO DO FUTEBOL BRASILEIRO DE VERDADE
Publicado em 19/03/2013 às 11h06
Campinense campeão da Copa do Nordeste. O representante do futebol brasileiro de verdade. Do improviso. Da desigualdade social. O que acontece no Sul Maravilha não passa de ilusão…
O brasileiro está iludido.
A Copa do Mundo trouxe mania de grandeza.
Será mais cara que a do Japão, da Alemanha e da África juntas.
Dos bilhões consumidos nas 12 novas arenas, 97% é dinheiro público.
Três arenas são particulares: do Inter, do Atlético Paranense.
E a de um bilhão de reais, do Corinthians.
Detalhe interessante é as nove demais serão administradas por empresas privadas.
Ou seja: todo o lucro dessas arenas será privado, não público.
O Corinthians é campeão da América, do mundo.
Os preços dos ingressos para a Libertadores são iguais a Champions League.
Neymar, com seus R$ 60 milhões anuais é o quinto jogador mais bem pago do mundo.
O futebol no Brasil é motivo de orgulho, de pujança, de modernidade?
Não. Na verdade está longe disso.
Por trás dessa campanha ufanista pelo Mundial há a realidade.
Levantamento da CBF aponta que há 783 clubes profissionais no Brasil.
Cerca de 90% dos jogadores recebem até dois salários mínimos.
Os grandes clubes juntos devem R$ 5 bilhões em impostos e direitos trabalhistas.
O Ministério do Esporte quer adequar o calendário brasileiro ao europeu.
"Ao mundo", como define o secretário nacional de futebol, Antônio Nascimento.
Com isso haveria espaço para excursões e pré-temporadas de verdade, lucrativas.
A CBF sabe que é esse o caminho.
Mas a TV Globo não permite.
Sua grade de programação vai de janeiro a dezembro.
Assim como a maneira de negociar com seus patrocinadores.
Como a TV é quem banca o futebol no País, ela decide.
Então a CBF finge que não quer a mudança.
Não pode assumir que é manipulada por uma emissora.
Melhor declarar não querer.
A nova prova da verdadeira realidade brasileira é o Campinense.
Legítimo campeão da Copa do Nordeste de 2013.
Disputada pelas principais equipes de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba...
Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Elas se juntaram e depois de dez anos voltaram a disputar o torneio.
O milionário Sudeste nem prestou atenção.
Mas os nordestinos foram espertos.
Fizeram esse rápido torneio, levaram milhares de torcedores aos estádios.
A disputa foi de afogadilho, veloz demais por um motivo simples.
Todos os 16 clubes tinham de voltar à disputa dos deficitários estaduais.
Se os torneios de São Paulo e Rio fazem todos perder tempo e dinheiro...
Os do Nordeste são lamentáveis.
O nível dos times pequenos é constrangedor.
Melhor voltar ao grande campeão do final de semana.
O Campinense, que bateu duas vezes o Asa de Arapiraca.
Conseguiu o maior feito da história do futebol paraibano.
Mas ontem veio a confirmação.
O clube tem a obrigação de vencer o seu campeonato estadual.
Só assim se garantirá no Brasileiro da Série D.
Se não conseguir, o time campeão será desmanchado.
Os contratos dos jogadores vão até o meio do ano.
Não há porque mantê-los se não há o que fazer a partir de julho.
A premiação de R$ 1 milhão da Copa do Nordeste é insuficiente para as dívidas.
Na Copa do Brasil, o sonho é passar pelo menos de uma fase.
E aí encontrar um time grande, perder, mas ganhar a arrecadação de uma partida.
Isso porque em 2010 quase o clube acabou.
Processos trabalhistas desde a década de 90 somaram R$ 1,5 milhão.
E no Nordeste, a justiça não ameniza com os clubes.
Todos os bens da Campinense foram penhorados.
Desde troféus até colchonetes.
Passando por estoque de papel higiênico.
Algumas taças foram leiloadas.
Já não pertencem mais ao clube.
Só a muito custo houve um acordo com a Justiça Trabalhista.
E grande parte do pouco que arrecada vai direto para as dívidas.
Principalmente o dinheiro dos jogos.
Isso desde 2011.
Por isso, o time campeão de 2013 foi montado para acabar no segundo semestre.
Mas isso o Brasil não quer saber.
O que importa são os milhões de Neymar.
Os ingressos de R$ 600,00 que o Atlético Mineiro cobra de seus torcedores.
Os R$ 500,00 que os corintianos pagam sorrindo no Pacaembu.
Sheik chegando de helicóptero para treinar.
Grêmio com uma folha salarial que passa dos R$ 8 milhões.
Jogador que recebe dois salários mínimos não interessa.
Campeão do Nordeste que vai acabar em julho também não.
Muito menos menino morrendo em testes para ser jogador do Vasco.
Torcidas organizadas com táticas de guerrilha urbana.
155 torcedores mortos desde 1988.
As registradas, lógico.
O que vale é a ilusão.
Bater no peito e dizer que o Brasil é o país do futebol.
Da Copa do Mundo, da Olimpíada.
Do Ministro do Esporte que quer perdoar os R$ 5 bilhões de dívidas dos grandes clubes.
Esquecer que Lula havia prometido que as empresas privadas bancariam a Copa.
Mas as 12 arenas das Copa consomem 97% de dinheiro público.
Vale é comemorar demais o título da Campinense.
Dançar forró bem juntinho com seu par preferido.
Porque em julho o time campeão pode acabar.
E vão sobrar apenas as dívidas.
Que serão pagas.
Porque clube da Paraíba não tem saída.
Acaba com seus times mas paga.
Tem de pagar.
20% do que arrecada no estádio Amigão nem chega a ver.
Não pode fazer como os milionários do Sudeste Maravilha.
Eles contam com muito mais compreensão da justiça.
E até com ministro que defende a extinção de suas dívidas.
A folha de pagamento do Campinense é de R$ 200 mil.
Recebe R$ 35 mil da prefeitura de Campina Grande.
A maior patrocinadora.
Nordesa, Energisa, Rota Do Mar, Granja Azevem...
E Murão Churrascaria também ligam suas marcas ao clube.
O dinheiro arrecadado bate nos R$ 100 mil mensais.
O clube precisa se virar para pagar o restante.
Depois da festa da Copa do Nordeste encara sua realidade.
Esse é o Brasil.
Terra que produziu Corinthians e Campinense.
A estimativa no Parque São Jorge de 2013 passa de R$ 330 milhões.
Em Campina Grande vai depender da disputa da Série D ou não.
Mas ambos são campeões.
Que celebram a desigualdade social.
O desequilíbrio na distribuição de renda.
E que, de verdade, não habitam o mesmo país...
Materia: R7 - Cosme Rímoli
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